quinta-feira, 23 de maio de 2013

Midiologia



COMUNICAÇÃO: TECNOLOGIA E IDENTIDADE

Capitulo 3 – Breve introdução à Midiologia


Para R. Debray, o que caracteriza uma ciência não é o objeto, mas o ponto de vista. Assim, temos o homem que fala através da Linguagem, o homem que deseja através da Psicologia, o homem que produz através da economia, o homem que se agrupa através da Sociologia, e assim por diante. No caso, a Midiologia estaria interessada no homem que transmite, estabelecendo uma correlação entre os símbolos e sistemas de organização nas sociedades.

O Midiólogo, interessado na transmissão cultural, deseja compreender como uma ruptura nos métodos de transmissão. Estuda a união entre corpus simbólicos (religião, doutrina), uma forma de organização coletiva (igreja, escola) e um sistema técnico de comunicação (registro, arquivo).

Para definir melhor o campo da Midiologia como disciplina, R. Debray  o contrapôs com os campos da Comunicação, da Semiótica, da Pragmática e da Sociologia, mostrando suas similares e oposições.

Midiologia X Comunicação

O principal conceito dentro da Midiologia é o de transmissão, entendendo-se por este como tudo aquilo que transporta uma informação através do tempo e Comunicação é tudo aquilo que transporta uma informação no espaço. Enquanto a transmissão tem um horizonte histórico, a comunicação tem um horizonte sociológico. Como exemplo a comunicação seria um jornalista e a transmissão seria o professor. O jornalista comunica, o professor transmite. Uma transmissão é uma comunicação otimizada, potencializada.

Midiologia X Semiótica e Pragmática

P. Levy entende que a Semiótica trata dos signos e da significação e está fechada ao triângulo tradicional do signo: significante (representante), significado (interpretante) e referente (o objeto). Já a pragmática vai além das três entidades propostas pela Semiótica e coloca em cena a Comunicação. O signo ou mensagem passa a ser analisado como um intermediário, operando entre os seres e o contexto.

A Midiologia coloca em cena uma coletividade no espaço e no tempo, em que o símbolo produzido em uma dado momento é depois reproduzido.

Enquanto o esquema semiótico é centrado sobre o signo, o esquema pragmático é centrado sobre o contexto, e na Midiologia é centrado na interação, na relação, na comunicação, como no esquema pragmático, mas, sobretudo, na transmissão.

Midiologia x Sociologia

A Sociologia também atenta para o entendimento interpretativo da ação social. Ela procura identificar a ligação existente entre as condições sociais e os sujeitos individuais e coletivos, mas não da atenção aos meios técnicos na ação social. A Midiologia por sua vez, estuda justamente a relação dos sistemas técnicos e os símbolos e sistemas de organização da sociedade.

A história dos quatro M da Midiologia

A Midiologia explica seus estudos através de um percurso: mensagem, médium, meio e mediação. Dessa forma, a ordem da exposição inverte a ordem dos fatores, passando assim de uma práxis (mensagem) a uma técnica (médium), depois um meio (ambiente) e finalmente uma antropologia (mediação). A mdiologia não se refere ao domínio dos objetos, e sim ao domínio das relações.

A mensagem e o médium

A Midiologia vê a mensagem como outra coisa que não é somente enunciado, pode-se dizer que é uma ideia inseparável do médium. A mensagem é incorporada pelo médium, e assim ambas se condicionam. Para a Midiologia, o médium consiste em todo o sistema, incluindo dispositivo, suporte e procedimento.
A Midiologia não separa a operação de um pensamento, do sistema de técnicas de inscrição, transmissão e estocagem que a torna possível. Um sistema de reorganização de mediações incluiria, por exemplo, clubes, cafés, teatros, correspondências, periódicos, etc. Estes sistemas são capazes de reorganizar a circulação dos signos, das novas redes e dos corpos intermediários.
Para a Midiologia a ligação causal entre uma técnica e uma cultura não é automática nem unilateral.

O meio e o médium


A Midiologia vê o meio criando o médium. O meio não é so um espaço externo para a circulação da mensagem, e meio é condicionado e condicionador. Ele não apenas impõe, ele propõe, ele não é somente uma condição suficiente para a produção de ideia é uma condição necessária. David Landes exemplifica dizendo “Não é o relógio que provocou o interessse pela medida do tempo, e sim i interesse ela medida do tempo é que levou a invenção do relógio”.

O ser humano tem plena consciência de que sua existência física é inseparável de seu meio ambiente natural, mas resta nos darmos conta de que a nossa existência física também é inseparável dos objetos que nos rodeiam, nosso tecno-sistema.

A mediação

A mediação é um intermediário, um processo, é tudo aquilo que se encontra interposto entre a produção de signos e uma produção de acontecimento (Debray, 2000).

As midiaesferas

O meio mais o médium ou mídias (plural de médium) formam a midiaesfera. Segundo R. Debray uma mentalidade coletiva se equilibra e se estabiliza em torno de uma tecnologia de memória dominante. A Midiaesfera é o meio técnico que determina uma relação com o espaço (transporte) e com o tempo (transmissão).

Aplicando a Midiologia

A reflexão sobre a Midiologia pode contribuir para o estudo sobre as novas tecnologias da informação e comunicação.

A transmissão de um dado conhecimento, é acrescentada a consideração da esfera. Não há ciência sem laboratórios, bibliotecas, congressos, estrutura universitária, etc. (Bougnoux, 1994, p.39). Ou seja, seria necessário, dentro da perspectiva midiologica, analisar a estrutura que suporta a transmissão de um determinado conhecimento, isto é, analisar e caracterizar a atual esfera.

Conclusão

A preocupação com a Midiologia é colocar em relação o universo técnico com o universo mítico, o que muda incessantemente com o que permanece através do tempo (Debray, 2000). Portanto, o interesse da Midiologia seria descobrir o que fez que determinado discurso/ideia sobrevive ao tempo.

Autor: Iluska Coutinho; Silveira Jr, Potiguara Mendes
Editora: Mauad 
2007, P. 35-48

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