COMUNICAÇÃO:
TECNOLOGIA E IDENTIDADE
Capitulo 5 – O espaço da interface
O principal objetivo deste
trabalho é questionar alguns pontos já levantados por pessoas ligadas a
diferentes áreas de conhecimento, mas que sobre certo ponto de vista, parecem
pertencer à discussão sobre a Atualidade e sobre as relações que o homem está
tendo com o que é externo a ele e o que é propriamente seu.
O que se fez aqui foi tentar entender um
espaço privilegiado para esse tipo de pensamento. Este local parece estar
ligado á noção de espaço potencial. O
espaço potencial não seria
propriamente o lugar do qual se quer enxergar a realidade já que está restrito
ao modo de ver.
O
espaço potencial é um local ambíguo e
paradoxal, e que pode ter mais de um aspecto. Daí a criação de outro lugar, a
interface, que tem muito a ver com este espaço
potencial, e em certos casos até confunde-se a ele, mas é diferenciada por
autores como Pierre Levy e Paul Virilio.
Levy
assim descreve: a palavra “interface” designa um dispositivo que garante a
comunicação entre dois sistemas informáticos distintos. Nesta acepção do termo,
a interface efetua essencialmente operações de transcodificação e de
administração dos fluxos de informação.
A noção de interface remete a operação de tradução, de estabelecimento de contato entre meios heterogêneos.
Paulo Virilio afirma que a região costeira é uma coisa surpreendente, uma interrupção maravilhosa, uma interface. Seja como região costeira, seja como comunicação ou transporte, a interface parece ser um local capaz de dar conta dos fenômenos de troca.
A interface mantém juntas as duas dimensões do devir: o movimento e a metamorfose. É a operação de passagem.
Um espaço privilegiado
Segundo Paulo Vaz, a atualidade coloca o homem
frente a um futuro que sempre pode ser, no mínimo, duplo. As coisas acontecem
num movimento em que o homem não pode estabelecer quais caminhos a seguir, ele
está numa corredeira, rio abaixo, na velocidade (Levy apud Vaz, 1997, p. 108).
E por isso, tem que seguir sempre sem frente, mas há como pensar que, mesmo
nesta correria, existem locais de onde se pode olhar. A interface surge ai como este tipo de lugar.
Por sua própria instabilidade, ela produz momentos interessantes e
enriquecedores que fazem com que o homem não precisa parar para olhar, e sim que ele possa ver no
movimento. No movimento, há a ideia da correria, mas na interface, há também a
possibilidade de aceleração. Velocidade e aceleração são coisas distintas e têm
valores diferenciados. A aceleração é tida como um fator que determina o quanto
podemos enxergar, segundo Virilio. Velocidade demais cega (Virilio e Lotringer,
1984, p. 83-84).
Para Virilio interface também é sinônimo de interrupção, onde haja a possibilidade de se parar para pesar antes de agir.
A ideia de aceleração mostra que não há só velocidade em questão. A interface como espaço de troca é também interrupção. Paul Vaz analisa, uma das possibilidades de ver a atualidade é encontrar em sua gênese o desencadear de uma força, que indica o sentido de mudança.
Interface e
velocidade
A
ligação da interface com a velocidade e a aceleração deveu-se mais às ideias de
Paul Virilio e por isso tornou-se mais elemento paralisante do que propriamente
um modificador de movimentos. A visão de interrupção pode ser encarada somente
como a modificação de um determinado movimento, como um fenômeno químico em determinadas
substâncias, quando misturadas podem simplesmente se isolar (água e óleo) ou
até explodir.
Há a possibilidade dada pelo desencadear de uma força no sentido de mudança, mas há também a indeterminação quanto ao que esta mudança pode produzir.
Há de se pensar, então, na interface como ligada ao espaço potencial. Este é determinado na relação do sujeito com o mundo e, por isso, individual, nunca coletivo.
Pode-se pensar na interface como coletiva, mas isso não pode advir da ideia de que esta vinculada ao espaço potencial, que é prioritariamente individual. Se for colocada à questão da interface como região de troca, é possível entender sua amplitude, sem perder de vista o espaço potencial, mas não há como determinar, ainda se isso é o suficiente para dar a ela um caráter coletivo.
Muniz Sodré propôs a ideia de interface como “linguagem, ideologia, prática e retórica da era ciberespacial”. A ideia de interface como linguagem, principalmente, faz pensar na possibilidade de enxergar ai algo que vai além do espaço potencial e que permite entender o caráter individual para o coletivo e, com isso, começar a poder entender as questões política e ética que são desenhadas aí.
Conclusão
Pode-se dizer que a interface é um local que pode ser encarado como próprio a um estudo da Atualidade no que se pode ver sobre trocas, comunicação e também sobre a própria noção de espaço neste tempo contemporâneo. A ideia de privilégio não se iguala a de ideal. Falar, então, da interface é pensar sobre contatos e misturas, sobre enriquecimento, onde há que se dar alguma coisa para se ter outra em troca, sem necessariamente sentir isso como uma perda.
Assim, este estudo pretende dar conta de uma possibilidade de encarar a comunicação hoje como um espaço deste tipo, onde as trocas são feitas. Neste sentido a interface liga-se também a noção de hipertexto, em que os caminhos não são mais determinados por um emissor único, e que é o receptor que escolhe quais os percursos quer fazer, ou quais as interfaces vai utilizar.
Autor: Iluska Coutinho; Silveira Jr, Potiguara Mendes
Editora: Mauad
2007
0 comentários:
Postar um comentário